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Category: geografia

tradução_ A linha de frente da luta contra o capitalismo de plataforma está em São Paulo

Posted on 05/10/20 - 05/10/20 by jlxtl

Notas:

_ por Callum Cant – twitter: @CallumCant1
_ publicado em 03/10/2020 por Novara Media em https://novaramedia.com/2020/10/03/the-frontline-of-the-struggle-against-platform-capitalism-lies-in-sao-paulo/
_ traduzido livremente

 

A linha de frente da luta de classes no capitalismo de plataforma está agora em São Paulo. Mais precisamente, encontra-se no ponto exato onde a Ponte Estaiada atravessa o Rio Pinheiros, que divide a zona sudoeste da cidade. Foi lá, em 1º de julho de 2020, que milhares de motoboys da cidade montaram um bloqueio como parte da maior greve de aplicativos de plataforma de entrega de comida da história.

Foto: Amanda Perobelli/Reuters – Design: Bronte Dow

 

São Paulo é uma extensa megacidade com mais de 12 milhões de pessoas, a maior do hemisfério ocidental. Em 2013, tinha dez bilionários residentes – mas para o resto da população da cidade, a vida parece muito diferente. Para os muitos residentes de favelas e cortiços de São Paulo, uma combinação de pobreza, superlotação e colapso do bem-estar social está intensificando os impactos da pandemia. À medida que a taxa de desemprego na cidade aumenta para 12%, mais e mais pessoas têm sido empurradas para fora do emprego, inflando o excedente urbano populacional.

É exatamente a partir desse excedente que as plataformas recrutam a maior parte de sua força de trabalho. Milhares de novos desempregados tornaram-se motoboys. Muitas vezes sujeitos ao preconceito racial no mercado de trabalho e vivendo em condições precárias nas margens da cidade, essa força de trabalho periférica viaja para o centro todos os dias para trabalhar em plataformas de entrega de comida como iFood, Uber Eats, Loggi, Rappi e 99 Food em estradas perigosas por menos de U$ 2 por hora.

O aumento no número de pessoas que trabalham para as plataformas significa que mais trabalhadores estão competindo pelo mesmo número de entregas. Com as plataformas dominantes pagando pelo número de entregas concluídas – ao invés do número de horas trabalhadas – o aumento da competição entre os trabalhadores significou um massivo corte na renda desses. É uma história que tem se repetido inúmeras vezes no capitalismo de plataforma e, como sempre, conflitos logo surgiram.

A greve de julho foi desencadeada por uma forma muito contemporânea de luta: um vídeo de selfie, transmitido de entregador para entregador pelo WhatsApp. Um motoboy conhecido como Galo filmou a si mesmo expressando os problemas enfrentados pelos motoboys. Ele havia sido recentemente desativado por uma das plataformas de entrega de comida para a qual trabalhava e queria responder. O clipe viral se espalhou pelas redes sociais e por grupos de entregadores e, em pouco tempo, uma greve selvagem visando todas as plataformas de entrega de comida em operação na cidade estava prestes a acontecer. Suas demandas centrais eram: aumento das remunerações, fim das desativações injustas de contas e apoio das diversas plataformas de entrega para trabalhadores que contraíram coronavírus.

Em São Paulo, a Vice informou uma participação histórica de 5.000 entregadores de plataformas. Os grevistas se reuniram em enormes comboios e bloquearam pontes e shoppings para interromper a circulação de mercadorias e pessoas pela cidade. Notícias da iminente greve também se espalharam para outros motoboys que trabalham para as mesmas plataformas em todo o continente, com paralisações no dia 1º de julho sendo relatadas no México, Chile, Argentina e Equador.

Essa é uma história que guarda profundas semelhanças com as lutas dentro do capitalismo de plataforma que têm ocorrido na Europa. Há um certo arco narrativo que se repete continuamente: uma mudança nos pagamentos ou nas condições de trabalho levam alguns trabalhadores à decisão de que já estão fartos. Eles começam a catalisar um processo mais amplo de mobilização. Segue-se uma rápida auto-organização por meio dos grupos de conversa criptografados, e é feita uma decisão de tomar ação direta contra a plataforma, geralmente entrando em greve.

A natureza informal dessa ação significa que sindicatos e partidos são amplamente evitados quando a luta aflora, e as expressões políticas que emergem da greve variam em tom do revolucionário ao reacionário. Por causa da abrangência transnacional das plataformas para as quais trabalham e das condições profundamente semelhantes entre as fronteiras nacionais, esses trabalhadores auto-organizados muitas vezes acabam fazendo conexões transnacionais com trabalhadores em outras cidades. Seus grupos de conversa se expandem do intra-metropolitano para o intra-continental.

As próprias greves são caracterizadas por bloqueios e ações diretas disruptivas nas ruas da cidade, e as reinvidicações expressas por meio delas giram em torno de ambas demandas por flexibilidade do autônomo e pela segurança do trabalhador. E, infelizmente, assim que essas instâncias de militância surgem, elas começam a se deteriorar à medida que os processos de auto-organização que as produziram se desintegram e não conseguem encontrar uma forma durável. Foi exatamente o que aconteceu em São Paulo, com uma tentativa de greve em 25 de julho contando com níveis de participação significativamente menores.

Existem, é claro, diferenças contextuais. O trabalho nas plataformas no sul global parece menos o produto final de um rápido colapso na relação de emprego formal e mais uma ampliação de uma esfera já em expansão de trabalho informal. Mas as dimensões fundamentais da luta são notavelmente semelhantes mesmo em contextos nacionais muito diferentes. Existe uma experiência transicional compartilhada de trabalho e luta entre motoboys no Brasil e entregadores nas ruas de Londres, Bristol e Manchester. Como sempre, o desafio enfrentado pelo movimento dos trabalhadores de plataformas é como transformar essas lutas de incidentes pontuais em uma campanha consistente.

O futuro do trabalho será definido por este problema: como transformar insurreições contra o poder das plataformas em um movimento dos trabalhadores voltado diretamente ao próprio modo de produção.

No Reino Unido, o movimento dos trabalhadores de plataformas diminuiu de tamanho desde seu pico em 2018. Mas as lutas continuam: ao longo de setembro, os trabalhadores organizados da Deliveroo, juntamente ao IWGB em York, fizeram piquetes contínuos nas lanchonetes da rede Five Guys para protestar contra o tempo excessivo de espera. Agora, a Deliveroo anunciou sua intenção de “contratar” mais 15.000 trabalhadores somente no Reino Unido – o que significa que o número de trabalhadores da Deliveroo terá dobrado somente em 2020, de 25.000 para 50.000. Podemos esperar que o segmento de nosso novo excedente pandêmico – os trabalhadores de cuidados e comércio expulsos dos centros das cidades – se verá absorvido pelo circuito em expansão do capital de plataforma. Mas para as plataformas, como os motoboys de São Paulo mostraram, o recrutamento não é um processo isento de riscos.

À medida que a proporção da classe trabalhadora posta para trabalhar em plataformas continua a se expandir, os padrões de mobilização nesse setor antes marginal continuam a crescer em importância. Mas a impermanência das estruturas orgânicas desenvolvidas pelos entregadores durante greves e conflitos é uma barreira significativa para eles, desempenhando um papel central em um renascimento mais amplo do movimento dos trabalhadores.

Callum Cant é o autor de Riding for Deliveroo: Resistance in the New Economy.

Posted in geografiaTagged alimentação, economia, entregadores, greve, pandemia, plataformas, São Paulo, tradução

tradução_ A geografia do COVID-19 e um vulnerável sistema alimentar global

Posted on 13/05/20 - 27/07/20 by jlxtl
Crianças aguardam por doação de comida em uma favela em Mumbai, Índia. (por Rajanish Kakade, 18-04-20).

No final do mês passado, quando o coronavírus continuou a se espalhar pelo mundo, o Programa Mundial de Alimentos (WPF, na sigla em inglês) alertou para uma “pandemia de fome”. Com os isolamentos e bloqueios restringindo a renda dos pobres e interrupções na cadeia de suprimentos impedindo que os alimentos cheguem aos consumidores, a fome e a desnutrição relacionadas à pandemia podem eventualmente levar mais vidas do que a própria doença. Compreender a geografia da pandemia e a vulnerabilidade de diferentes sistemas alimentares é fundamental para uma resposta bem informada.

Segundo o Programa Mundial de Alimentos, existem agora 821 milhões de pessoas no mundo que dormem famintas todas as noites, e mais 135 milhões enfrentam níveis críticos de fome ou inanição. Esse último número pode dobrar para quase 265 milhões no final do ano por causa do COVID-19.

Embora a fome global tenha diminuído nas últimas décadas, a tendência se reverteu alguns anos atrás, quando os níveis de insegurança alimentar começaram a subir novamente, com conflitos militares em muitas regiões e recentes infestações de gafanhotos na África Oriental sendo alguns dos principais fatores. Como tal, os problemas de segurança alimentar relacionados ao coronavírus estão no topo das tendências mundiais já preocupantes.

Ao avaliar os impactos do COVID-19 na segurança alimentar global, é importante considerar como a pandemia está afetando a produção e distribuição de alimentos, bem como a capacidade das pessoas de comprar ou adquirir alimentos. Além disso, líderes e políticos precisam entender o padrão espacial da pandemia e a vulnerabilidade de diferentes sistemas alimentares.

A pandemia de COVID-19 não tem se propagado pelo planeta de maneira uniforme, como tinta fresca envolvendo uma bola. Em vez disso, se espalhou desde suas origens em Wuhan, na China, para outros grandes centros urbanos bem conectados do mundo, e daí para cidades menores e finalmente para áreas rurais — um padrão conhecido como difusão hierárquica. O que isso significa é que o mundo não está enfrentando uma grande e uniforme pandemia, mas uma série contínua de surtos interconectados e espacialmente diferenciados, com diferentes inícios e dinâmicas.

Isso também significa que os moradores das cidades atingidas primeiro, geralmente conectadas globalmente e relativamente ricas, podem enfrentar as dificuldades econômicas e os problemas alimentares associados à doença de maneiras diferentes das afetadas posteriormente. Essas diferenças persistem porque as conseqüências para a segurança alimentar provocadas pela doença são condicionadas pelos sistemas sociais, econômicos e alimentares nas quais estão operando. Isso não significa necessariamente que as regiões mais ricas ou mais industrializadas estão em melhor situação, apenas que suas vulnerabilidades são diferentes.

De um modo geral, é mais provável que os países mais ricos tenham problemas com a produção de alimentos por conta da natureza de suas cadeias de suprimentos, que são complexas e concentradas. Enquanto isso, os países de baixa renda provavelmente terão problemas com o acesso a alimentos, devido às suas fracas redes de segurança social.

Produção de alimentos

Impactos no suprimento de alimentos variam de acordo com o tipo de alimento. O ano passado foi um bom ano de colheita para a maioria dos principais grãos do mundo, e os estoques são relativamente abundantes. O processamento e transporte de grãos é também relativamente menos trabalhoso do que de outros tipos de alimentos. Assim, não se espera que a escassez de grãos seja um problema nos próximos meses, a menos que alguns dos principais países produtores de grãos optem por estocar suas produções. Essa é uma boa notícia para os países importadores de grãos, incluindo muitos de baixa renda da África.

No entanto, o vírus está começando a criar problemas para a produção de frutas, legumes e carne em algumas áreas do mundo, principalmente em países de alta renda. Aqui (o autor refere-se aos Estados Unidos), grande parte da produção de frutas e vegetais é realizada pelo trabalho de imigrantes alojados em fazendas em locais próximos, tornando-os particularmente suscetíveis a surtos de COVID-19. As fábricas de processamento de carne também são especialmente vulneráveis ao coronavírus, com várias fábricas nos Estados Unidos e no Canadá sendo forçadas a fechar recentemente. A concentração corporativa na indústria de carnes ampliou o problema, porque agora existem menos fábricas, mas significativamente maiores, com trabalhadores muito adensados. Centenas de trabalhadores foram infectados em algumas instalações, levando a perdas significativas na produção de alimentos.

Os impactos do COVID-19 na produção de alimentos em países de baixa renda diferem dos de países de alta renda. A produção para consumo doméstico e para os mercados locais ainda é difundida em algumas áreas tropicais do mundo. Com cadeias de suprimentos mais curtas e produção mais diversificada, há menos chance de algo dar errado. Uma forma dessa produção mais localizada é a agricultura urbana e periurbana de pequena escala, que abastece muitas cidades dos países mais pobres com boa parte de seus produtos frescos.

As mulheres desempenham um papel central como produtoras de alimentos em muitas áreas dos trópicos, representando 70% dos alimentos produzidos na África, por exemplo. Mas as mulheres também são as principais prestadoras de cuidados em muitas dessas sociedades, o que significa que elas podem ser mais propensas a serem expostas a membros da família doentes com o COVID-19, com implicações em cadeia na produção de alimentos, cuidados infantis e nutrição infantil.

Acesso a alimentos

Os bloqueios relacionados ao COVID-19 têm sido particularmente desafiadores para os mais pobres nas áreas urbanas dos países de baixa renda, porque essas populações dependem do trabalho informal e intermitente para ganhar o dinheiro necessário para comprar comida. Além disso, muitos países de baixa renda não são capazes de fornecer uma rede de segurança social robusta às suas populações em termos de substituição de renda ou fornecimento direto de alimentos durante um bloqueio.

Isso tem levado à migração reversa, ou migração urbano-rural, em alguns países como a Índia, quando trabalhadores desempregados voltam para áreas rurais em busca de melhor acesso a alimentos. Embora isso faça sentido para os indivíduos, esses grandes movimentos de pessoas também podem espalhar a doença nas áreas rurais.

Muitas famílias em países de baixa renda também estão enfrentando declínios na renda de remessas de familiares que vivem no exterior e não podem mais trabalhar devido a bloqueios em países mais ricos. Isso restringe ainda mais o orçamento alimentar dessas famílias.

O caminho a seguir

Para enfrentar tanto os problemas de produção quanto os de acesso a alimentos, o mundo precisa de um sistema alimentar mais descentralizado. A concentração corporativa, particularmente nos países mais ricos, apenas tornou o sistema alimentar mais vulnerável a surtos de pragas e doenças. Grandes fazendas que usam métodos industriais para cultivar uma gama restrita de culturas são menos adaptáveis às mudanças nas condições do mercado. Elas também envolvem densas forças de trabalho e campos monoculturais, ambos mais suscetíveis a doenças. Além disso, a tendência para menos e maiores instalações de processamento de alimentos produz gargalos no sistema, pois mesmo uma falha em uma única fábrica pode levar a uma perda significativa na produção. As políticas que incentivam a desconcentração das indústrias de alimentos tornariam os sistemas alimentares menos vulneráveis a doenças, com o benefício adicional de que uma produção alimentar mais localizada é melhor para o meio ambiente.

Nos países de baixa renda, apoiadores e seus parceiros do setor privado também devem interromper seu esforço incansável para integrar os pequenos agricultores no sistema alimentar global. Aqui (Estados Unidos), pequenos agricultores que produzem amplamente para consumo doméstico e local estão sendo incentivados a usar mais insumos comprados — como sementes, fertilizantes e pesticidas — e a produzir para mercados regionais e globais. Isso não tem levado a melhorias na segurança alimentar e nutricional das famílias envolvidas e tornou a produção de alimentos mais arriscada devido ao aumento das chances de endividamento e maior exposição às flutuações dos preços de mercado.

Por pior que possa parecer agora, os efeitos negativos do COVID-19 na segurança alimentar global só se aprofundarão à medida que a doença se espalhar ainda mais nos países de baixa renda. Esses impactos agravarão os problemas alimentares já existentes, exacerbando a fome de maneiras que não vemos há várias décadas. A comunidade global deve responder rápida e generosamente para enfrentar a maré crescente da fome global.

Com o nacionalismo econômico e a xenofobia em ascensão em alguns países mais ricos, será difícil conseguir apoio político para uma assistência generosa e uma abordagem multilateral para combater a fome global. Mas se os políticos não são influenciados pelo argumento moral de que o direito à alimentação é um direito humano fundamental, certamente devem entender que é do seu próprio interesse defender uma maior segurança alimentar global. Afinal, a fome generalizada gera instabilidade e conflito, o que não beneficia ninguém.

traduzido livremente

publicado por William G. Moseley em World Politics Review, 12–05–20
https://www.worldpoliticsreview.com/articles/28754/the-geography-of-covid-19-and-a-vulnerable-global-food-system

William G. Moseley é professor de geografia e diretor do ‘Program for Food, Agriculture & Society’, na Macalester College em Saint Paul, Minnesota.

Posted in geografiaTagged alimentação, descentralização, fome, geografia, pandemia, tradução

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